UM
DOS BAIRROS MAIS ANTIGOS DA CIDADE, GUARDA SUA MEMÓRIA.
O bairro da Freguesia do Ó, com sua praça da "Matriz" em muito lembra as cidades do interior. Agitada à noite pelos barzinhos,
restaurantes e pizzarias, guarda traços do passado, com as construções antigas e as ladeiras de onde se tem a visão da grande
cidade que, moderna, lhe serve de contraste. Agora ganha o seu Museu Itinerante
garantindo o registro e a guarda de toda a sua história, que se confunde com a própria história da cidade e do estado.
Origem
A Freguesia do Ó
foi fundada por Manuel Preto, o bandeirante, em 1580, portando 26 anos após a fundação de São Paulo de Piratininga.
Era uma época de heróis e aventureiros. A pé ou a cavalo homes desbravavam um Brasil recém descoberto à procura de riquezas
e conquistas individuais. Em São Paulo, reduto dos bandeirantes, a região onde atualmente se localiza
o bairro da Freguesia do Ó, funcionava como rota obrigatória dos que procuravam pelo ouro. O ponto final era no Pico do Jaraguá,
onde se encontravam as maiores reservas do país.
Rota
de gente importante
Pela Freguesia passaram
viajantes ilustres Saint Hillare, Antony Guillemin, Hercules Florence, Mawe e Daniel Kideer. Este inglês, que escreveu em
1839 um relato sobre a rota de acesso ao garimpo na Freguesia do Ó. A região
era, também, passagem obrigatória para quem se dirigia a Campinas e Goiás, conforme registros de mapas datados de 1842. Aliás,
acredita-se que essa rota tenha sido feita em período anterios aos próprio descobrimento pelos índios.
Memória
Rica e histórias Típicas
O bairro é rico em histórias peculiares, preservando muita características antigas, como a linguagem interiorana usada até
hoje.
“NO MEIO DE UMA METRÓPOLE AGITADA,
UMA REGIÃO AINDA PRESERVA TRAÇOS DE OUTRORA”
Uma pesquisa detalhada foi coordenada pelas historiadoras Ana Ligabue e Tania Veiner resultando nos painéis fotográficos e
documentais, além de testemunhos vivos que podem fazer parte do Museu da Freguesia do Ó. Caracteristicas únicas fazem da Freguesia
um bairro sugi-generis no coração da metrópole. Considerado o "Cinturão caipira"da cidade, até há 40 anos atrás abrigava chácaras
e sítios. Por estar localizado do outro lado do rio Tietê, isolada do restante da cidade até meados dos anos 50, quando foram
construídas as primeiras pontes de concreto, desenvolveu uma história singular.
Sua
gente e seus "causos"
Benedito Luís Ribeiro,
seu Lilico, um dos moradores mais antigos da Freguesia, deescende de bandeirantes e sua família foi responsável por grande
parte das construções das pontes de madeira que caracterizavam o bairro. Em
sua memória, pequenas histórias, algumas engraçadas que se tornaram lendárias como a do possível susto do bandeirante Manuel
Preto ao se deparar com uma quantidade imensurável de ratos, "tendo repetido um sonoro "Ó", dando origem, assim, ao nome da
região. "Naturalmente que isso é só folclore, todos sabem que o nome da Freguesia
do Ó, surgiu em homenagem à Nossa Senhora do Ó (aliás um dos aspectos fervorosos do bairro), mas é uma história contada por
gerações", diz ele. Seu Lilico comenta também sobre o incêndio que destruiu
a Igreja Matriz em 1896. A Igreja tinha uma casa
de marimbondos muito grande, cujos "moradores" incomodavam bastante à população. Disponstos a exterminar os insetos, algumas
pessoas decidiram atear fogo ao ninho, inundando-o com querosene. Infelizmente o fogo não destruiu apenas os "invasores",
mas a própria Igreja Matriz. Graças ao empenho da própria população, já em 1901 a nova Matriz estava pronta para abrigar os fervorosos fiéis.
O interior da igreja, mais precisamente os anjos pintados pela artista Salvador Ligabue, ganharam notoriedade pelos seus rostos,
que segundo dizem, refletiam a imagem de cada uma das filhas do pintor. D. Isabel
Gomes Faim Ribeiro, Dona Isa, esposa do seu Lilico, relembra o tempo em que o bairro era uma grande estação rural, tranquilo,
onde ela pegava o bonde para ir à escola. Religiosa, D.Isa frequenta a Igreja Matriz diariamente. Moradores como D. Isa e
o Seu Lilico, cujas vidas são um relato vivo da trajetória desse bairro, traduzem em cada atitude a "personalidade impar"do
local.
Caninhas
do Ó
Na Freguesia, também
foram engarrafadas as famosas "caninhas do Ó ", que tiveram seu período áureo nas primeiras décadas do século. Os sitiantes
enchiam o carro de boi com os engradados da melhor pinga de alambique da região. Nas histórias que vão sendo passadas por
gerações é unânime a afirmativa de que nos alicerces da Igreja existe, pelo menos uma garrafa da caninha.
As histórias do bairro giram sempre em torno da Igreja Matriz, comprovando a religiosidade e determinação de seus moradores.
O Museu do Bairro da Freguesia do Ó permanecerá por trinta dias no largo da Matriz, seguindo para clubes e escolas da região,
conforme as solicitações vindas da comunidade. Essa a premissa básica do projeto:
estabelecer vínculos com a comunidade, criando através das memórias e relatos dos moradores, um importante processo de reflexão
e discussão da importância da preservação do pratimônio histórico da cidade, em cada um de seus bairros.
O
Bairro e a Tradicional FESTA DO DIVINO
A Freguesia do Ó
é um bairro que tem vida própria. Ela tem história, uma Praça da Matriz, ladeiras no entorno da Igreja (que por sinal é vista
de vários pontos da cidade, devido à sua localização no alto de uma colina), tem comércio simples, mas variado e na própria
Praça apresenta uma diversidade de barzinhos, pizzarias e restaurantes que levam para lá as pessoas dos mais variados cantos
da cidade. Já ganhou até música de Gilberto Gil (eu sou da periferia, eu sou
da Freguesia do Ó...), mas um dos pontos importantes nesse bairro é sua acentuada influência caipira e a tradição que é mantida
por seus moradores. Essa tradição começa no próprio carinho e respeito que a
população mantém com a Igreja Matriz que, segundo depoimentos e registros antigos, foi erguida em 1610, por Manuel Preto e
sua esposa Águeda Rodrigues. Eles ergueram a primeira capela sob a proteção de Nossa Senhora do Ó. Séculos depois, a região
acolhe numerosos fiéis devotos da Santa, moradores ou não da região. Fiel às
tradições e à religiosidade, as Quermesses, as Novenas, a Folia de Reis, a Festa da Padroeira e a Festa do Divino são manisfestações
populares ansiosamente aguardadas por todos.
Os próprios moradores organizam a Festa do Divino. Essa também é uma traidção que atravessa
gerações.
Para se ter uma idéias, a Igreja de N.S. do Ó, uma das mais antigas de São Paulo, conseguiu com deternminação de seus parócos
e empenho da comunidade, dar continuidade às grandes demonstrações de fé, em especial ao Divino Espírito Santo, mantendo antigas
tradições derivadas da cultura do povo. à frente da Festa do Divino está Maria
Lucia Miserocchi de Oliveira Abreu Lins, que desde 1974, continuando o trabalho da mãe, não mede esforços para manter viva
esta traidção."A nossa Festa do Divino, em sua parte religiosa é constituída pela novena preparatória, Solene Missa celebrada
no Domingo de Pentecostes (cinquenta dias após a Páscoa), e grandiosa Procissão pelas ruas do bairro", explica D.Maria Lucia.
A parte folclórica da festa também é uma das tradições da comunidade, incluindo sorteio para escolha do Imperador do Divino
e Capitão do Mastro. Escolhido o Imperador, o eleito coloca ,sua capa vermelha, porta o cetro e o anel e, acompanhado por
pajens, distribui aos presentes, após a procissão, as "Roscas do Divino", numa demonstração de Fartura e Fraternidade.
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